sábado, 22 de setembro de 2012

Uma intertextualidade visível...


A garota de São Paulo

MARCELO RUBENS PAIVA

O Estado de S.Paulo - 13/08/11


         
Existem mais de cem tons de cores. Mas prefere o preto. Cítricas? Só quando vai à praia. E costuma cobrir suas pernas esticadas, finas, com meias pretas.

          Usa botas. Não existe mulher que se veste melhor do que as paulistas. E que saiba qual bota escolher e como andar sobre elas. Sabe o equilíbrio entre o moderno e o convencional. Senso estético apurado. Dona do seu próprio estilo.

          A paulista não anda, caminha apressada. Vem e passa. Sem balanço. Sem mar para ir atrás. Moça do corpo pálido. Saturado pela pressa. Beleza que passa sozinha.

          Não faz questão de chamar atenção. Nem tanta questão de ser gostosa, mas magra. Sempre de dieta. Sempre em guerra contra a balança.

          Malha para se afunilar. Intensamente, pois sabe que a gastronomia da cidade é uma tentação. Massas, pizzas, doces, sorvetes, doces, nhá benta, tesão... Academia? Prefere pilates, que estica até o limite das juntas, quase rasga em duas. E corre, se quer emagrecer urgentemente.

          Olhando o chão, pois já tomou muitos tombos por causa das calçadas irregulares da cidade, uma anarquia de desníveis, pedras, buracos, pisos sem um padrão seguro para o seu caminhar apressado de botas, meias e pernas finas. Rebolar? Fora de questão.

          Olha para o chão e se lembra do que esqueceu, do quanto falta, do que faz falta, do que está errado. A garota de São Paulo é perfeccionista, gosta de estar ajustada, como as engrenagens de uma indústria. Quer a precisão da esteira de uma linha de montagem.

          Passa e olha para o chão, pois pensa nas atividades, nos prazos atrasados, nos compromissos da semana, na agenda do mês.

          A garota de São Paulo leva uma vida saudável. Procura comer verduras sem agrotóxico. Leite? Desnatado. Carne vermelha? Eventualmente. Carboidrato à noite? Nem pensar. O pão tem que ser integral. Linhaça e aveia no café da manhã? Obrigação. Café descafeinado. Chás. Queijos brancos, magros.

          Nada industrializado, a não ser a caixa de Bis, que detona algumas vezes em certos períodos, que por vezes tem o intervalo longo, mas quando se torna um vício, chora, porque algo deu errado, desembrulha e engole cada Bis, como se nele a explicação das incoerências.

          Recicla o lixo. Toma remédios para dormir. Toma excitantes para acordar. E aguentar a jornada.

          Ela é ambiciosa, trabalha demais, em mais de um emprego, pensa em dez coisas ao mesmo tempo, procura conciliar a organização do lar com a de fora dele.

          Ama e odeia o chefe. Ama e odeia o trabalho. Sabe que ele dá a independência para ser a moça que quiser, mas também tira o tempo de ser a moça que queria ser. Metade dela sofre o descarte para a outra parte florescer.

          Adora elogios. Odeia galanteios. Adora presentes. Detesta insistentes. Quer ser cortejada. Jamais abusada. Sorri quando assopram um elogio. Fecha a cara quando ultrapassam o limite da sua intimidade. Preserva a privacidade.

          Algumas querem ser chefe. Chefiar garotos de São Paulo. O que só dispara seu conflito maior, o de agregar. Terá que dar ordens, broncas, demitir, exigir, estipular metas, cobrar eficiência. E depois sozinha em casa chora no escuro ao som de Billie Holiday. Se sente pressionada, e ela não sabe por quê. A vida não faz sentido, e ela não sabe por quê.

          Chora em comerciais da TV, cerimônias de casamento, em maternidades, quando visita as amigas, no farol, quando uma criança vende bala.

          A garota de São Paulo dirige bem. O problema é que se maquia enquanto fala no celular e ultrapassa um busão articulado, aproveitando a brecha entre ele e uma betoneira lotada de concreto. E se esconde no anonimato do insulfilm, muda a música do MP3 e, dependendo dela, canta sozinha em voz alta, para não ouvir impropérios.

          Faz tanta coisa ao mesmo tempo... Dirige bem, mas é dispersa. Pensa em vinte coisas em dez segundos. Nunca chega a uma conclusão.

          Liga para a mãe semanalmente. Troca poucas palavras com o pai. Detesta a esposa do irmão. E ama as amigas. Com quem viaja para a praia, para não ficarem um segundo em silêncio. Se o tempo não dá chances, prefere uma tarde na piscina do condomínio com as amigas do que encarar o parque lotado.

          Se irrita com homens que falam de dinheiro. Se irrita com homens que contam vantagens no trabalho. Se irrita com homens grudentos, esnobes, arrumadinhos, fúteis, incultos, mal-educados.

          Gosta de homem interessante. É assim que ela seleciona: os interessantes e os não. O que é um homem interessante? Nem se gravar o papo de seis horas na piscina com as amigas consegue-se descobrir.

          Tem que ser aquele que chega e não dá bola. Mas que a repara bem antes de ir embora. Que olha como se ela fosse a mais fosforescente das mulheres. E que desse um jeito a todo custo de trocar meia dúzia de palavras e, claro, criar laços e conexões.

          Mas se nada der certo, garotos, não esquentem a cabeça. A mulher de São Paulo sabe seduzir. Sabe olhar e demonstrar. Sabe chamar atenção e indicar que você foi o escolhido. Sabe sorrir, ser paciente com a sua demora, ouvir atentamente os seus devaneios e engasgos. E, quando parece tudo estar perdido, sabe dizer a hora de ir embora, como e sugerir na casa de quem.

          A garota de São Paulo não enrola. Quando não quer, deixa claro. Quando quer, faz de tudo para acontecer. E não tem o menor pudor de ir para a casa com você na primeira noite, preparar o café da manhã da primeira manhã, que logo, logo, ambos saberão se vai se repetir ou ser o único.

          Pode deixar. Andando de volta para casa, com suas meias pretas e botas, olhando para o chão, ela pensará em você.

          Tudo isso é uma generalização literária. Mas me dá licença, poeta, para uma licença poética, homenageando sem pedir licença a graça pragmática da mulher paulista.

Crônica Vampiresca

 
Quem não gosta de um bom filme? E de um bom livro?
Para quem nunca ouviu falar: Crepúsculo - livro escrito por Stephenie Meyer, e filmado posteriormente é a onda do momento, há uma febre mundial do visual vampiresco a base de muito pancake, batom vermelho e drama, drama e mais drama, algo do tipo garota encontra garoto, mas... O amor a primeira vista é impossível...
Essa história lhe é familiar? Não, não é Romeu e Julieta... Mas, surpresa! Ele é um vampiro e ela uma mortal desastrada... Agora se é um bom livro ou filme... Resposta altamente questionável. Vai de gosto ou do tamanho do teu ócio...
Demanda do momento, ou apenas falta de ter o que fazer, o que sei é que só se fala em Eduard e Bella, e a questão é que o debate vai longe se formos pensar no assunto do momento: Vampiros... Yeah, vampiros para todos os lados, na Literatura, nos clipes, na música, nos filmes, e tem até gente achando que eles existem, ou pior: - Tem gente achando que é um Vampiro!
Piada? Infelizmente, não, é só digitar no Google: vampiro de Presidente Prudente, e você lerá a” fascinante” trajetória de um senhor que se chama Vandeir, mas que se apresentava a alguns jovens (desmiolados,diga-se de passagem ) como Wlad Hacamia.
Pois é, o tal senhor é suspeito de ter feito lesões no pescoço de pelo menos 17 jovens e ter chupado o sangue das supostas vítimas, que tinham entre 13 e 16 anos. Ele admitiu à polícia participar da Legião de Salvadores do Mundo, mas negou ter feito lesões nos jovens para chupar seu sangue. As vítimas contaram que quando eram atacadas, o ‘vampiro’ ficava com os ‘olhos coloridos e dentes grandes’.
O pseudo vampiro também passou por um exame médico e foi constatada uma cifose dorsal acentuada, o que significa que Vandeir é corcunda. Ele dizia aos jovens da seita que tinha ‘asas nas costas’. Fala sério! Em que planeta este povo vive, que acreditava que esse doido era vampiro , tinha asas e o pior ainda deixava mordê-los ??? Olha que se eu fosse responsável por algum destes 17 tontos, eu pediria ajuda psiquiátrica...
Bom, continuando a história que mais parece invenção,(mas não é !)disseram que o tal vampiro se reunia há mais de dois meses com o grupo de meninos e meninas em uma praça da cidade e no cemitério municipal.( Ah não ! Isso já é demais , todo mundo sabe que cemitério é solo sagrado!)
O vampirão corcunda afirmava ser um ‘anjo-vampiro’. Para entrar na seita, os adolescentes tinham de deixar o líder chupar seu sangue. Em troca, receberiam a imortalidade e superpoderes para “fazer o bem para as outras pessoas”( Oh my dear lord,este pessoal não freqüenta a igreja não,é?). Os cortes foram abertos com estilete pelos próprios seguidores e por próteses utilizadas pelo agressor nos dentes caninos. Os rituais contavam com velas e oferendas aos vampiros, ao som de muito rock’n roll pesadíssimo.
Quer saber , eu estou passada! Galera, um pouco de cultura para aqueles que querem saber sobre vampiros :
Os Vampiros estão presentes no imaginário há muito tempo , a primeira aparição que remete a este ser das sombras vem do ano de 1047 , na forma escrita, da palavra "upir" (uma forma primitiva da palavra que mais tarde se tornaria "vampiro") num documento se referindo a um príncipe russo como "Upir Lichy", ou vampiro perverso .
Repito não estamos falando destes vampiros gracinhas de cabelo espetadinho e sorriso torto , eu estou falando minha gente, daqueles vampiros que arrepiam até o último fio do cabelo .
Parece-me que os adeptos de Crepúsculo e demais franquias de Meyer, nunca assistiram o célebre "Nosferatu" , um clássico do cinema mudo que data de 1922 ,tá... tudo bem eu sei que tem gente insana que vai vir com a resposta : - Eu nem era nascido naquela época... mas , pelo amor do senhor! Hello!!! Romance de 1897 escrito pelo irlandês Bram Stoker? Te lembra alguma coisa ? O senhor Conde Drácula, o ator Bela Ferenc Dezsõ Blaskó, mais conhecido como Béla Lugosi,não tinha nada de lindo com aquela capa aterrorizante...
 
Bom , saia da bolha Crepúsculo, e se você não curte Carnaval , segue abaixo uma lista de filmes para você morrer de medo... Ou de rir.
1. A Dança dos Vampiros' (1967)
2. A Hora do Espanto (1985)
3. Vamp - A Noite dos Vampiros' (1986)
4. Garotos Perdidos (1987)
5. Quando Chega a Escuridão (1987)
6. Buffy, a Caça-vampiros (1992)
7. Drácula de Bram Stoker (1992) -superprodução deFrancis Ford Coppola
8. Entrevista com o Vampiro (1994)
9. Um Drink no Inferno (1996)
10. Vampiros de John Carpenter (1998)
11. Blade II - O Caçador de Vampiros (2002)
12. Underworld - Anjos da Noite' (2003)
13. Van Helsing - O Caçador de Monstros' (2004)
14. Anjos da Noite: Evolução' (2006)
15. 30 Dias de Noite' (2007)
Mais uma vez repetirei para ficar bem claro: - Vampiros não existem, não tem como ter vida eterna , e mesmo se tivesse com este aquecimento global e tanta coisas terríveis acontecendo no mundo , duvido muito que alguém iria querer viver para sempre,(acredite não é um bom negócio) então um conselho: se alguém com visual vampiresco (tipo olhos coloridos e dentes pontiagudos,capa preta,corcunda...sabe, estas coisas superrr normais... ) te oferecer a vida eterna , corra o mais rápido que puder ,e se te convidarem para ir ao cemitério,nem pensar! Conte para os seus pais , eles saberão o que fazer... 190!
Ps :
Quer saber de onde eu tirei a história do vampiro de Presidente Prudente? http://oglobo.globo.com/sp/mat/2007/11/21/327251220.asp
Quer saber mais sobre a origem dos vampiros ? Entra neste aqui site aqui : http://www.gothznewz.com.br/magia/vampirismo/cronologia.htm
 

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Neologismo - Pizzarias

           Diria que na cultura brasileira existe uma preocupação de fornecer nomes criativos e cativantes. Seria bom saber se ocorre o mesmo em outros países.  Procuram-se elementos do próprio português e também de outros idiomas, que sirvam como signos de uma sociedade acolhedora e aberta ao novo.  
           A pizza é parte da cozinha italiana, mas as pizzas servidas nos restaurantes e padarias brasileiros têm o jeito brasileiro no sabor, nos temperos e na variedade de tipos disponíveis. A única coisa italiana em muitos casos são os nomes ou expressões usados: “Tutti Fratelli”, “Mangiatto Bene”, “Dom Nicoli”. Nem todos os donos (mesmo italianos ou descendentes) optam por designações italianas. Há sempre os “recantos”, “os reis”, “os paraísos” e “o cantinho” da pizza ao lado das pizzarias “Três Irmãos”, “S.O.S” e “Vai de Pizza” sem se esquecer dos sempre presentes Pizzas Disk  como “Bom Gosto” e “Bom Apetite” e “Delícias”. 

Neologismo- Cabelos e modas



           Na moda masculina, o italiano é usado em alguns casos: “per uomo”. Cabe observar que o nome de uma loja chamada Retoucherie, local onde se remendam roupas, não exclui os que não entendem o francês, pois existem na publicidade outros signos como uma fita métrica, uma agulha além de uma “explicação” em português. Ligado à indumentária para médicos, dentistas, enfermeiros e técnicos de laboratórios de análises clínicas, um estabelecimento que fornece aventais de todo tipo é bem servido com o nome “Mania de Branco”, bastante apropriado no contexto.

 
           No ramo de cabeleireiros, vocábulos de origem francesa como atelier, maison, coiffeur,  “La Belle” e “Au bottier” ocorrem com certa frequência e evocam a tradição da França no mundo de moda e de estilo. Com respeito ao mundo da moda, usar o vernáculo “Entre na moda” informa que se trata de uma loja de confecções femininas.  Outro estabelecimento de confecções aproveita o próprio vocábulo “criativo”, elimina no nome a letra v e o e põe dois ff.

Neologismo - Fusões

 
           Uma boa estratégia é fundir os vocábulos “amigo” e “cão”, que dá o “AmiCão”.  Na nomeação dos estabelecimentos desse ramo de animais, a estratégia de ordem pragmática é estabelecer laços de afetividade e assim o uso do português aparece em primeiro lugar: “Lambidinhas de amor”, “Amor sobre patinhas”, “Vira-latas” e “Bicho da Caneca” seguido de “pet shop” ou até “pet center”.  É interessante que um simples clichê como “feito cão e gato” pode virar um nome atraente para uma loja que cuida de animais.
           Mas não é necessário usar nomes estrangeiros, pois o próprio português oferece oportunidades para criatividade, como no caso de uma clínica veterinária cujo nome é “18 kilatem e 1 kimia”, que aproveita a ambiguidade de “(os cachorros) que latem” e “quilate”, por um lado, e “(um gato) que mia” e o elemento de composição do português -químio(a).


John Robert Schmitz é professor do Departamento de Linguística Aplicada, Instituto dos Estudos da Linguagem, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) 
      

O Neologismo - Comércio

 
            Quem passeia pelas cidades brasileiras, preferivelmente a pé, não pode deixar de observar a variedade de nomes dados a estabelecimentos comerciais de diferentes atividades e de serviços. Botar um nome fácil de lembrar, engraçado e original é realmente uma arte. Pensar num nome que chame a atenção do público exige uma boa dose de criatividade, bastante reflexão com a finalidade de adequar o nome ao ramo de atividade e ao serviço prestado.
           Por exemplo, uma loteca com o nome de “Bidu da Sorte” vai ao encontro da atividade específica - a de atrair apostadores esperançosos de se tornarem milionários. Alguns lojistas brasileiros são tão criativos que parecem ter recorrido a profissionais na área de publicidade e propaganda para batizar os seus negócios.
           Há vários exemplos do uso da linguagem de forma criativa. Um determinado hospital veterinário ou “pronto-socorro” para cães e gatos recorre ao vocábulo “zoo” e o verbo “correr” para produzir o nome “Pronto Zoocorro Pet Shop”, fazendo assim a associação com o conhecido vocábulo “pronto-socorro”.
           Alguns usuários mais puristas podem até lamentar a presença, nesse nome, de palavras de origem estrangeira, como pet em vez de “bicho de estimação” ou, no limite, até a ausência do belo vocábulo de origem tupi-guarani “xerimbabo”, diga-se de passagem, devidamente dicionarizado.


John Robert Schmitz é professor do Departamento de Linguística Aplicada, Instituto dos Estudos da Linguagem, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) 

Neologismo

        
Neologismo - Criação de novas palavras -Nelson Bedin
          Chama-se de neologismo o processo de criação de novas palavras na língua. Você já reparou que, de tempos em tempos, novas palavras surgem - seja nos telejornais, descrevendo uma nova tecnologia, por exemplo, seja nas ruas, por meio de gírias.

        A vivacidade de uma língua está ligada à capacidade de seus falantes de criar novas palavras, ampliar o vocabulário, ou de emprestar dar às palavras que já existem novos sentidos.

       José de Alencar, escritor romântico do século 19, assim se manifestou a esse respeito:

"Criar termos necessários para exprimir os inventos recentes, assimilar-se aqueles que, embora oriundos de línguas diversas, sejam indispensáveis, e sobretudo explorar as próprias fontes, veios preciosos onde talvez ficaram esquecidas muitas pedras finas, essa é a missão das línguas cultas e seu verdadeiro classicismo."

Manuel Bandeira, escritor modernista do século 20, compôs um poema metalinguístico sobre o mesmo tema:

"Neologismo"
Beijo pouco, falo menos ainda
Mas, invento palavras
Que traduzem a ternura mais funda
E mais cotidiana
Inventei, por exemplo, o verbo teadorar
Intransitivo;
Teadoro, Teodora.


Observe ainda um trecho de Guimarães Rosa em que ele alude a essa questão:

"(...) Já outro, contudo, respeitável, é o caso - enfim - de 'hipotrélico', motivo e base desta fábrica diversa, e que vem do bom português. O bom português, homem de bem e muitíssimo inteligente, mas que, quando ou quando, neologizava, segundo suas necessidades íntimas.

Ora, pois, numa roda, dizia ele, de algum sicrano, terceiro, ausente:
-E ele é muito hiputrélico...
Ao que, o indesejável maçante, não se contendo, emitiu o veto:
-Olhe, meu amigo, essa palavra não existe.
Parou o bom português, a olhá-lo, seu tanto perplexo:
-Como? ... Ora ... Pois se eu a estou a dizer?
-É. Mas não existe.

Aí, o bom português, ainda meio enfigadado, mas no tom já feliz de descoberta, e apontando para o outro, peremptório:
-O senhor também é hiputrélico...
E ficou havendo."
(Tutameia - Terceiras estórias)


       Segundo o autor, "hipotrélico" significa "indivíduo pedante", "falto de respeito para com a opinião alheia."
       Classificação dos neologismos
       Neologismo léxico: aquisição de uma nova palavra no vocabulário da língua. É o que ocorre com muitas palavras ligadas à Informática: mouse, site (importadas do Inglês), infovia.
      Neologismo Semântico: empréstimo de um novo sentido a uma palavra já existente: azular = fugir; pistolão = proteção; curtir = aproveitar.
      Neologismos formados por onomatopeia
      Onomatopeia é o recurso que consiste em criar palavras para registrar sons, ruídos, vozes de animais: miar, piar, cataplum, pingue-pongue.

     Observe como Manuel bandeira, em seu poema "Os Sapos" registra, com vocábulos que nada têm de onomatopéicos, na estrutura, mas que imitam a coisa significada, ou seja, a voz da saparia:
      Urra o sapo-boi:
      "Meu pai foi rei!" - "Foi!"
      "Não foi!" - "Foi" - "Não foi!"

Os neologismo podem ser formados, também, de acordo com os processos de formação de palavras.

*Nelson Bedin é professor de português do Stockler Vestibulares, cursinho fundado em 1984, em São Paulo.